domingo, 8 de julho de 2007

Dorzinha


Dorzinha. De leve. Aquela no meio das costas. Atravessa. É preciso de algum alongamento dos órgãos internos. Sempre a mesma curvatura nas costas. O mesmo olhar sobrebaixado para não ter que olhar. Porque olhar faz mal. Por vezes. Agora, endireita-se na cadeira e mantém os olhos baixos como uma digitadora. Simples assim. Sem nenhuma exigência maior da sua capacidade de raciocínio. Um fim. Uma morte sonora. Piiiiiiiiiiiiiiiiiii. Desembesta. Curva de novo a coluna, curva todas as vértebras para olhar o umbigo. Abrir o peito, manter a coluna alinhada, aqui no computador ou em qualquer outro local, pode ser custoso. É preciso um exercício para abrir o peito. Um pouco de rigidez e pressão abdominal para manter a postura. Isso é por causa de umas dores antigas. Um tipo de fórmula descrente que te enfurece. Quase um estacionamento de coragem. Você permanece quieto, no mesmo cruzamento das linhas imaginárias, no mapa-mundi. Uma bala atravessa o peito. Não há ferradura. Preciso de uma. De escudo. Falta um pouco de prepotência e seriedade. Olhar-se de fora. Examinar com prontidão o que lhe incomoda. Incomoda-me o olhar baixo. O medo da reprovação. A possibilidade única do pior. Sempre se pensa no pior. Por isso, não se exige melhoria. Conformismo. Estacionamento de objetividade. Podia até fazer trabalho científico, com método e observação, sobre o estacionamento dos passos. Há necessidade de um resgate quase estrelar – de anos-luz. Um tipo de força da revolta. Os olhos claros, grandes e abertos. Dizendo, que sim, eu ainda existo. Não sentir os joelhos frouxos, o andar cambaleante, a vista cansada e o tom baixo da voz. Andar como um bloco de concreto. Frio e cinza. Alguma cor nas extremidades, para não dizer que sou preto e branco.

No fim. Sou. Bem escura. Não há motivo agora, de bexigas coloridas e passos acelerados de crianças. Nem brigadeiro ou copo de plástico com refrigerante. Não há a alegria dos papéis de
presentes brilhantes. Nada. Solidão no escuro.

Um ponto ainda de luz. Se é que existe. Existe. Basta uma respiração inicial para desafogar as veias. Para deixar que o sangue circule ainda e, que as células mantenham o exercício de contração e abertura. Preciso de sol nos poros. Fortalecer os ossos. Olhar bem para a claridade, deixar secar o sangue quente sobre a pele.

Ocorre uma seqüência de interrupções. Interrupção do desenvolvimento do outro e do meu. O estacionamento das relações. Um dominó de bloqueios. Quase sem possibilidade de fala. Como estar ao lado de alguém e este ser inalcancável. Um abismo entre dois corpos e duas consciências. Um precipício de julgamento e de condenação.
Depois tudo retorna a você. Só você sabe quando o calo dói. Tenho um calo no centro das costas. Abre e atravessa.


01/05/2007

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